domingo, 31 de maio de 2009

Os machados ainda flutuam...

Hoje são 31 de maio de 2009 e eu tive a graça de ir à Igreja da minha noiva. Fazia um tempo que isso não acontecia e, como ela sempre me acompanha na minha empreitada eclesiástica, senti-me em débito com ela e sua comunidade de fé.

Na verdade, desde semana passada, sem cobrança alguma da parte dela (ela é um anjo, acreditem!), eu havia prometido que estaria presente no culto vespertino do dia de hoje em sua Igreja. Deus... Sempre me pegando de surpresa! E o melhor: quando eu mais preciso...

Vocês conhecem aquela imagem de pastor, presbítero, diácono ou seminarista inabaláveis em sua fé? Eu não acredito: somos humanos, cheios de questões, dúvidas, medos, anseios... São tantas emoções (perdoe-me o Roberto), que até nos confundem. Pois bem, após duas semanas bem atribuladas e em "ardente oração" (ainda que cheio de dúvidas - eis o paradoxo da fé!), meu Senhor resolveu me falar, e assim foi...

O sermão foi baseado no texto de 2 Reis 6.1-7. Ouvi atentamente, orei, chorei, senti, recebi, guardei, e agora, escrevi.

Resumidamente, o texto fala de dscípulos de Eliseu buscando um espaço maior para se ter uma vida mais confortável. Chegando ao jordão começam a cortar madeira das árvores para a construção de seus projetos. Mas como vitória sem luta é bobagem, o machado cai na água. Qual o problema? Compra-se outro ali na esquina e tudo certo, certo? Errado!O machado não era um instrumento comum em Israel, e muito provavelmente era caro, devido a sua escassez.

Para piorar o desespero do discípulo, tal objeto era emprestado e ele deveria dar conta disso. E a casa? Caiu... Antes de se levantar, certo? Errado de novo!Eliseu pergunta onde o machado caiu e após se lhe mostrar o lugar, o profeta lança um pedaço de pau sobre as águas e o machado sobe flutuando. O discípulo o pegou sob a ordem do homem de Deus.

Não sei como este texto se aplicou a cada pessoa ali. Não conheço as necessidades de todos. Mas sei das minhas. A casa que tenho buscado edificar, em meio a tantas dificuldades da alma, é uma vida cristã que cumpra a vocação. Essa é minha casa: a obra de Deus, o episcopado almejado de 1 Timóteo 3. Mas em meio há tantas informações, questões e dores próprias do fato de existir, cabe uma pergunta: Em que ponto ou lugar afunda o machado da fé, que nos serve para construir tal casa? E quando isso acontece, não nos parece sobrar apenas o absurdo da existência?

Ora, o Deus que levou o profeta no passado a devolver a esperança do seu discípulo, creio, também levou o profeta de hoje a encher minha alma de esperança, sabendo que Deus é poderoso para suprir qualquer problema e responder-me diante de qualquer necessidade.

Aliás, o machado que afundou também não é meu, é emprestado... é um dom de Deus (Efésios 2.8).

Quando o Mestre disse que "basta a cada dia o seu próprio mal", penso que nada impede dEle ter pensado: "o seu próprio bem também". Por isso creio que os machados ainda flutuam...

E graças a Deus por isso! Amém.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

A Santíssima Trindade - Thiago Velozo Titillo

Santíssima Trindade
Por: Thiago Velozo Titillo

1. Definição

O teólogo batista reformado A. H. Strong define assim a Trindade em sua Teologia Sistemática: “Em a natureza do Deus único há três distinções eternas que se nos representam sob a figura de pessoas e estas três são iguais”[1].
Basicamente esta definição, sob outras palavras, tem sido defendida pela ortodoxia cristã desde o Concílio de Nicéia em 325 d.C., quando da resolução da controvérsia suscitada entre Ário e Atanásio.

2. A História do Dogma

O pano de fundo que envolve todo o desenvolvimento do dogma, remonta aos primeiros pais, principalmente os gregos, por serem mais especulativos.
Contudo, foi um dos pais latinos, a saber, Tertuliano (220 d.C.), o primeiro a usar o termo Trindade, referindo-se à divindade judaico-cristã, como podemos observar em sua obra Contra Práxeas:

Todos [os três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo] provêm de Um, pela unidade (procedente) da substância; mas o mistério da dispensação ainda deve ser guardado, que distribui a Unidade em uma Trindade, colocando na devida ordem as três pessoas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo; três, porém, não em condição mas em grau, não na substância, mas na forma, não no poder, mas no aspecto e, não obstante, de uma só substância, uma só condição e um só poder. (ênfase acrescentada)[2]

Tertuliano defendia uma única substância divina, em essência, mas distinta em três pessoas. Ele defendeu a eternidade destas três pessoas divinas, onde o Filho estaria subordinado ao Pai, e o Espírito Santo ao Filho. Para este pai latino, o Filho e o Espírito Santo sempre existiram no seio do Pai e dele “surgiram”, apesar do Pai permanecer o “monarca” sobre tudo e todos:

Ora, o Espírito é realmente o terceiro a partir de Deus e do Filho; assim como a fruta da árvore é a terceira a partir da raiz, o afluente do rio é o terceiro a partir da nascente e o vértice do raio é o terceiro a partir do sol. Nada, porém, é diferente da fonte original de onde deriva suas propriedades específicas. Da mesma forma, a Trindade, que flui do Pai em passos entrelaçados e conexos, não perturba, de modo algum, a monarquia [do Pai], ao passo que ao mesmo tempo guarda o estado da economia [da criação]. (ênfase acrescentada)[3]

Orígenes (184-254 d.C.), um dos mais eruditos pais da Igreja oriental, discípulo de Clemente de Alexandria, definiu a Trindade basicamente da mesma forma que Tertuliano, embora com algumas diferenças. Orígenes não se utilizou do termo técnico Trindade, como fez o pai latino.
É fato que Orígenes defendeu a divindade do Filho, como fica expresso na sua obra Sobre Princípios Fundamentais: “O que faz parte da natureza da deidade é comum ao Pai e ao Filho”[4]. De alguma forma podemos afirmar que Orígenes negligenciou um pouco o Espírito Santo em sua formulação trinitária. O mestre alexandrino seguiu de perto a doutrina formulada por Tertuliano, indo um pouco mais além na questão da subordinação das pessoas divinas, defendendo esta subordinação também no tocante à essência.
Tal crença ganhou força na Igreja Oriental, culminando no Subordinacionismo Ortodoxo, onde a natureza do Verbo é eterna no íntimo do Pai, mas não ainda uma pessoa à parte. Por ocasião da criação, o Verbo teria sido emitido como uma pessoa distinta (hipostatização). O Verbo é divino, mas sujeito ao Pai e o Espírito Santo é considerado menor ainda: “Deus Pai [...] atinge todos os seres [...] O Filho, por sua vez inferior ao Pai, atinge somente os seres racionais, pois é segundo depois do Pai. Ainda menor é o Espírito Santo, que age somente nos santos”[5].
O século III foi assolado pela heresia monarquianista, que emergiu como uma tentativa infeliz de salvaguardar o monoteísmo cristão, a fim de evitar assim o que chamamos de triteísmo. Tal movimento se dividiu em duas correntes: o monarquianismo dinâmico e o monarquianismo modalista.
O monarquianismo dinâmico entendia Jesus como um mero homem que serviu de “templo” para o logos impessoal de Deus, ou seja, sua sabedoria, habitasse. O Espírito Santo seria apenas uma influência divina. O maior representante desta corrente foi Teodoto de Bizâncio, que acabou excomungado pelo Bispo de Roma, Vítor[6].
A outra corrente monarquianista (modalista) tornou-se mais influente que a primeira. Com o interesse em manter o monoteísmo sem, no entanto, macular a deidade do Filho, propôs que as três pessoas da divindade como modos sucessivos pelo qual Deus se manifestava na história[7]. No Oriente, Sabellius foi o maior expoente da doutrina, desde que começou a advogá-la em 250 d.C.
Todas estas concepções doutrinárias a respeito de Deus foram apenas ingredientes para a “massa” que explodiu na controvérsia ariana. Ário (260-335 d.C.), natural da Líbia, na África do Norte, estudou em Antioquia, sendo aluno do influente Luciano de Antioquia, considerado pai de muitas doutrinas estranhas na igreja primitiva. “A partir de 315 [Ário] começou a propagar seu pensamento através de homilias, cartas, canções sacras e o escrito Banquete”[8]. Em linhas gerais, Ário afirmou que somente o Pai era não-gerado, não-criado, eterno, anterior ao Filho. Contrariamente, o Filho era gerado pelo Pai, e começou a existir no tempo, pois houve momento em que o Verbo não existia. Resumindo, o Verbo era a primeira criatura do Pai, superior a todas as demais, sendo criado como instrumento da criação[9]. O apoio escriturístico de Ário se encontrava nas seguintes passagens: a autoridade de Deus é “dada” ao Filho (Mt 28.18); Cristo rejeita ser chamado “bom”, pois só Deus é bom (Mc 10.18; Lc 18.19); o Filho desconhece o dia da sua vinda (Mc 13.32); a “incapacidade” do Filho agir de per si (Jo 5.19); o Pai é maior do que o Filho (Jo 14.28); o Filho será sujeito ao Pai “para que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15.28); Cristo é o primogênito da criação de Deus (Cl 1.15).
O bispo Alexandre de Alexandria, apesar de não ser amante de controvérsias, resolveu rebater em seus sermões e escritos os ensinamentos de Ário. Em virtude da ineficácia de tais métodos, viu-se obrigado a convocar um sínodo em Alexandria, que se reuniu em 318 d.C., com cerca de cem bispos do Egito e Líbia. Pela autoridade deste sínodo, Ário foi excomungado juntamente com dois bispos, seis padres e seis diáconos[10]. Com isso, Ário partiu para Nicomédia, onde ganhou a amizade do bispo Eusébio. Exilado e sob a proteção do bispo, Ário redigiu uma profissão de fé em 320, assinada por ele mesmo e pelos bispos, padres e diáconos com ele excomungados dois anos antes. Tal documento foi enviado a Alexandre, e assim reza em determinado parágrafo:

Reconhecemos um só Deus, sendo somente ele não-gerado, somente ele eterno, somente ele sem princípio, somente ele verdadeiro, somente ele imortal, somente ele sábio, somente ele bom, somente ele cheio de poder; é ele quem julga todos, quem controla todas as coisas, quem provê todas coisas; e ele não está sujeito a nenhuma mudança ou alteração; ele é justo e bom; ele é o Deus da Lei e dos Profetas e da Nova Aliança. Esse único Deus, antes de todo o tempo, gerou seu Filho unigênito, por meio de quem fez as eras e o universo. Ele o gerou, não apenas na aparência, mas de fato; por vontade própria fez subsistir seu Filho e o tornou imutável e inalterável. Sendo criatura perfeita de Deus, ele é diferente de qualquer outra criatura; gerado, sim, mas incomparável no modo de ser gerado [...]. Mas dizemos que foi criado pela vontade de Deus, antes de todas as eras; do Pai recebeu existência e vida e, ao cria-lo, o Pai conferiu-lhe a própria glória. O Pai, porém, ao entregar todas as coisas em seu poder, não se despojou delas: o Pai contém todas as coisas em si mesmo de modo não gerado, pois ele é a fonte de todas as coisas. Existem, portanto, três substâncias (hipóstases).[11]

Em 325 d.C. o sínodo de Nicomédia favoreceu a Ário e seus seguidores, e o de Alexandria ratificou a decisão do anterior. Mesmo assim Ário voltou à Alexandria.
Alexandre escreveu então sua obra Deposição de Ário, resumindo objetivamente a heresia ariana que o levou à excomunhão em Alexandria. Tal obra foi largamente distribuída aos líderes eclesiásticos.
Quando o imperador Constantino tomou conhecimento de que uma controvérsia entre Ário e Alexandre estava colocando em risco a unidade da Igreja no Oriente, convocou um Concílio em Nicéia. Os bispos do império receberam uma carta do bispo Eusébio de Nicomédia, com uma exposição do ensinamento ariano e uma outra de Alexandre, bispo de Alexandria. Isso certamente os deixou bastante confusos e temerosos de um cisma por questões doutrinárias inconciliáveis. O Concílio iniciou-se em 30 de maio de 325 d.C. e teve a duração de dois meses. Participaram do Concílio 318 bispos, mas “somente 28 eram arianos desde o início. O próprio Ário não teve licença para participar do concílio por não ser bispo. Foi representado por Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia”[12]. Durante o processo contra Ário, Alexandre foi auxiliado por um jovem que se tornaria irredutível na luta pelo que se tornou a doutrina ortodoxa cristã: Atanásio. O desfecho do Concílio com a redação do Credo de Nicéia, deixou Alexandre, Atanásio e seus partidários plenamente satisfeitos:

Cremos em um só Deus Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância [homoousios] do Pai, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro do verdadeiro Deus, gerado, não feito, de uma só substância [homoousios] com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos. Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: Ele era quando não era, e antes de nascer, ele não era, ou que foi feito do não existente, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substância ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja católica e apostólica anatematiza.[13]

Contudo, o tempo expôs a ambigüidade deste credo, visto que homoousios e hypostasis foram utilizados como sinônimos, referindo-se sempre à substância. Os gregos, porém, utilizavam o segundo vocábulo para designar “pessoa” e o primeiro para se referir a “substância”. Mondoni, acertadamente sugere que, “assim, quando os orientais falavam de três hypostasis, os ocidentais corriam o risco de entender tal palavra como três divindades separadas” e, também, quando os ocidentais se referissem a uma única homoousios os orientais poderiam entender “como tom modalístico”[14].
Atanásio muito labutou em seus escritos para defender o que veio ser a crença universal da Igreja. Seus esforços foram coroados através do Concílio de Constantinopla 381 d.C., que inseriu um “terceiro artigo” para facilitar a compreensão do Espírito Santo e da Igreja:

Cremos em um Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor, Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós, homens, e por nossa salvação desceu dos céus, foi feito carne por meio do Espírito Santo e da Virgem Maria e tornou-se homem. Foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos; padeceu, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, subiu aos céus, assentou-se à direita do Pai. Novamente há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos e seu reino não terá fim. Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai; que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica. confessamos um só batismo para a remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e vida no século vindouro.[15]

Desde então ficou estabelecida a doutrina que até os dias de hoje confessamos ser revelada nas Sagradas Escrituras. Agostinho escreveu sua obra Sobre a Trindade, que foi, certamente, uma grande contribuição para o entendimento da doutrina no Ocidente, excluindo toda e qualquer idéia de subordinação. Durante a Reforma do século XVI não houve nenhuma consideração nova a respeito da Trindade.

3. A Doutrina nas Sagradas Escrituras

Toda a controvérsia supracitada não se deu por mera especulação, mas pela convicção de que a Bendita Palavra de Deus revela algo sobre a natureza de Deus nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É isto que examinaremos agora.
A ênfase monoteísta que norteava o povo de Israel é uma das doutrinas centrais da religião da Bíblia: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4). Por toda a Bíblia encontramos a ênfase de que há um só Deus (Is 43.10; 44.6; 45.22; Ef 4.6; Tg 2.19). Não obstante, o próprio Antigo Testamento traz alguma luz sobre a pluralidade de pessoas dentro da divindade. Vemos tal indício até mesmo no Shemá:

Na língua hebraica a palavra único está no construto e revela uma unidade composta, não uma unidade absoluta. Sendo assim, até no texto áureo do judaísmo encontramos a unidade composta de Deus na expressão único. Outro exemplo de unidade composta é vista em Gn 2.24 (onde o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e serão os dois uma só carne), em que duas pessoas distintas são consideradas por Deus uma só carne.[16]

Há também o uso do termo Elohim para designar Deus, plural de eloah. Certamente que isso somente não serviria de apoio para a crença na pluralidade de pessoas dentro da divindade, mas somados aos verbos e pronomes plurais, como por exemplo, “façamos”, “nossa” (Gn 1.26); “nós” (Gn 3.22); “desçamos e confundamos” (Gn 11.7); “por nós” (Is 6.8), podemos encontrar alguma luz na revelação veterotestamentária àquilo que se tornaria claro na revelação do Novo Testamento.
Ainda no Antigo Testamento, temos a presença do “Anjo do Senhor” (Gn 31.11-13; Ex 3.2-6; Jz 13.21-22), identificado como sendo o próprio Deus, e ao mesmo tempo distinto. Não são poucos que o tem identificado como o Filho pré-encarnado:

Um dos argumentos no sentido de identificar o “Anjo do Senhor” com o Cristo pré-encarnado é a afirmação de que “há um só ... Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (2 Tm 2.5), entendendo-se que sempre houve um só Mediador, mesmo no Antigo Testamento, e esse Mediador era o Filho de Deus na forma de “Anjo do Senhor”, que parece indicar uma categoria diferente dos demais anjos.[17]

Há ainda as profecias messiânicas, como encontramos em Is 9.6, onde o Messias é apenas “um menino”, mas também é Deus: “Deus forte, Pai da eternidade*”. Miquéias reforça a idéia de sua eternidade (5.2).
Temos também uma menção importante em Is 48.16, pois relata o Espírito como estando desde o princípio com Deus, sendo naquele momento por Ele enviado.
O Novo Testamento traz à luz aquilo que no Antigo permanecia nublado. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são claramente chamados de Deus no Novo Testamento.
O Pai é chamado de Deus em diversas passagens, tais como as de Jo 6.27, Ef 4.6 e 1 Pe 1.2. Logicamente que, não precisamos demonstrar que o Pai possui atributos e prerrogativas divinas.
O Filho também é chamado Deus: Jo 1.1; 20.28; At 20.28; Rm 9.5; Tt 2.13; Hb 1.8. Alguns textos demonstram claramente atributos divinos na pessoa de Jesus Cristo: auto-existência (Jo 1.4; 5.26), eternidade (Jo 1.1; 8.58; Ap 22.13); onipresença (Mt 18.20; 28.20); imutabilidade (Hb 13.8), dentre outros inúmeros. Prerrogativas divinas também são atribuídas a Cristo, como por exemplo, o perdão dos pecados (Mc 2.10).
O Espírito Santo é, também, chamado de Deus (At 5.1-10; 2 Co 3.17; Ef 2.22). Podemos notar vários atributos divinos: amor (Rm 15.30), eternidade (Hb 9.14), onisciência (1 Co 2.11), etc. A obra da regeneração do crente ´r também atribuída ao Espírito Santo (Jo 3.5-7); Tt 3.5), bem como a inspiração das Sagradas Escrituras (2 Tm 2.16; 2 Pe 1.20-21).
Em virtude de tudo que foi visto, cremos por meio da revelação divina que Deus é um em essência e indivisível (Dt 6.4; Is 43.10; 44.6; 45.22; Ef 4.6; Tg 2.19), sendo esta unidade de essência composta por três personalidades distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28.19; 1 Co 12.4-6).

4. Bibliografia

Bíblia Apologética. ICP, 2000.

BERKHOF, Louis. A História das Doutrinas Cristãs. 1 ed. São Paulo: PES, 1992.

MONDONI, Danilo. História da Igreja na Antiguidade. 1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradições e reformas. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2001.

SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. 1 ed. Curitiba: A.D. Santos, 1999.

SIMMONS, Thomas Paul. Um Estudo Sistemático de Doutrina Bíblica. 2. ed. São Paulo: Não mencionado, 1954.

[1] Apud, SIMMONS, Um Estudo Sistemático de Doutrina Bíblica, p. 101.
[2] Apud, OLSON, História da Teologia Cristã, p. 97.
[3] Ibidem, pp. 98-99.
[4] Ibidem, p. 111.
[5] Orígenes, Sobre Princípios Fundamentais, I, III, 5, apud, MONDONI, História da Igreja na Antigüidade, p. 115.
[6] BERKHOF, A História das Doutrinas Cristãs, p. 71.
[7] Ibidem, p. 72.
[8] MONDONI, Opus Citatum, p. 122.
[9] Ibidem.
[10] Ibidem.
[11] Apud, OLSON, Opus Citatum, p. 150.
[12] Ibidem, p. 156.
[13] Retirado da Bíblia de Estudo Apologética, p.1487, com acréscimo da grega homoousios entre colchetes para designar substância.
[14] MONDONI, Opus Citatum, p. 127.
[15] Retirado da Bíblia de Apologética, p.1488.
[16] Bíblia de Apologética, comentário sobre Dt 6.4, pp. 234-235.
[17] SEVERA, Manual de Teologia Sistemática, p. 90, nota de rodapé 37.
* Pai, aqui, não deve ser entendido no sentido da pessoa “Pai” dentro da Trindade, mas de ser o “autor da eternidade”.